“As palavras que eu vos disse são espírito e vida.” – Jesus (João, 6:63.)
Nunca é demasiado comentarmos a importância e o caráter sagrado da palavra. Em cada época e em todos os lugares, surgem no mundo grandes Espíritos que manejam a palavra que impressiona multidões. Não falamos apenas de discursos que, muitas vezes, enganaram e enganam indivíduos e até nações com promessas vãs, com teorias falsas que encontram identificações em mentes sintonizadas com essas ilusões, ou ainda discursos que prometem liberdade sem obrigações e, portanto, sem responsabilidades.
Não nos referimos apenas ao discurso falado, mas também à palavra escrita. Homens existiram e ainda existem que, através de seus pensamentos expressos em palavras, exaltam uma época, uma nação, ou ainda narram as experiências de um povo através de suas transformações sociais.
Cada um desses homens falou sempre para um tempo determinado, para um povo determinado, ou mesmo para alguns povos. Mas esse tempo passa e, na maioria das vezes, as palavras se perdem ou são deturpadas; os povos se renovam e as novas experiências que são vividas tornam as anteriores ultrapassadas. Para termos uma idéia desse processo de transformação, lembremos as mudanças tecnológicas que vivenciamos no passado e as de agora. As máquinas de um ano atrás já são obsoletas hoje. Assim, qualquer narrativa que exalte as descobertas de ontem servirá para sabermos como foi nosso passado, como tudo se iniciou, mas não serve para atender nossas necessidades de agora.
No entanto, as palavras de Jesus transcendem tudo que seja tempo ou espaço. Vão além de qualquer obra literária ou artística que exalte as belezas de uma época ou de um povo. Ultrapassam plataformas políticas ou verdades filosóficas, frutos sempre da mente humana e, portanto, imperfeitas. As palavras do Mestre dirigem-se a todas as criaturas da Terra, no momento exato, estejam elas neste ou naquele campo evolutivo.
Pelo caráter universal que elas possuem é que a Doutrina Espírita as reflete, porque são verdadeiras em qualquer lugar e em qualquer tempo. O Espiritismo não observa os ensinamentos de Jesus porque deseja uma reforma superficial como muitos movimentos religiosos o fazem, com vistas a simples mudanças exteriores. Ao Espiritismo não basta desmontar uma casa e, usando o mesmo material, modificar-lhe as disposições, dando-lhe nova fachada. A Doutrina propõe algo muito maior, mais profundo. Propõe-nos não somente desmontar a casa das nossas falsas crenças e medos, mas também trocar o material da construção e criar novas formas.
E de que maneira podemos fazer isso sem ficarmos ao relento, já que ainda necessitamos de apoios? Acreditamos poder responder levando a questão para dentro de nossa casa, no nosso trabalho doméstico ou profissional. Quando nos propomos a fazer faxina nos nossos armários ou nas nossas mesas, não podemos tirar tudo, de uma só vez, para depois tentar organizar, recolocando nos melhores lugares. Sabemos que o caos se instalaria.
O que fazemos, então? Limpamos um lugar de cada vez. Jogamos fora o que não nos interessa mais, reformamos outras que ainda poderão nos ser úteis, mas, principalmente, limpamos o lugar para que possa receber coisas novas que estavam guardadas, pois nossas gavetas estavam tão lotadas de coisas inúteis – seja por medo de jogar fora ou porque não nos havíamos percebido de sua inutilidade – que não havia lugar para mais nada.
Assim é com nossa mente, quando pensamos em renovação, em transformação. Estamos recebendo novos ensinamentos – princípios espíritas – que constituem um sistema renovador a nos indicar o caminho correto. É um roteiro de ação, de diretriz no aperfeiçoamento de cada um. Na verdade, o novo material de construção está chegando; são os novos objetos que irão a seu tempo para as gavetas. Só que, antes de usá-los, temos que limpar os espaços onde eles ficarão.
Quando recebemos os ensinamentos que Jesus nos oferece através do Espiritismo, na maioria das vezes, nos colocamos diante deles como se fosse um espetáculo de beleza: ou choramos, porque nutrimos apenas a fonte de nossa emotividade, ou nos penitenciamos, nos sentindo culpados diante de nossos próprios erros. Porém, é preciso ir além das lágrimas e das culpas. É imprescindível que aprendamos, diante dos ensinamentos do Divino Amigo, a pensar sobre eles, a nos purificar na prática deles, a nos reerguer, entendendo que somos todos aprendizes do Seu Evangelho; mas, sobretudo, que aprendamos a servir ao próximo, esteja ele dentro dos nossos lares, no trabalho, nos transportes coletivos, nas filas de espera. Isto não importa. O que importa é vivenciar os ensinamentos que Jesus nos deixou.
Quando temos sede ou fome, buscamos saná-las na fonte material. Quando adoecemos, buscamos a cura da moléstia através de remédios específicos. Assim também acontece com as necessidades da nossa alma, com os nossos desequilíbrios morais. Tanto a necessidade física quanto a espiritual não são diferentes em parte alguma e em tempo algum. Sempre existiram porque o Espírito é imortal.
A lição do Cristo para todos nós, quando diz que suas palavras são o espírito e a vida, isto é, a água e o pão da alma, é comparável à fonte que mata a sede e ao pão que alimenta o corpo. As palavras do Divino Amigo são o fator equilibrante de nossos desajustes morais e o medicamento para nossa alma ferida. Por isso Seus ensinos não se perdem no tempo nem no espaço. Em qualquer lugar, onde haja um coração aflito e uma mente em desarmonia, as lições de Jesus ali estarão. Como o pão, como a água e como o remédio, elas são fundamentais à vida.
Prestemos atenção, portanto, quando lidarmos com as palavras benditas que Ele nos deixou, seja em relação a nós próprios, seja em relação aos outros. Viciamos nossos corpos como viciamos nossas almas e, muitas vezes, fazemos isso com as pessoas que nos cercam. Quantos trocam a água pura pelas bebidas excitantes e quantos preferem lidar com a ilusão perniciosa em se tratando dos problemas espirituais. O alimento do coração, para ser efetivo na vida eterna, baseia-se na realidade simples e não nos deslumbramentos da fantasia que procede do exterior.
Cheio de abnegação e amor, Jesus sabe alimentar todos os homens. Fiquemos, pois com Ele.
Emmanuel
Do livro Palavras de Vida Eterna, Francisco Cândido Xavier – Edição CEC, 1995.
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